Sloyd Experience no Brasil
- Luis Otavio Cocito de Araujo

- 23 de out.
- 3 min de leitura
"O objetivo da Sloyd não é formar marceneiros, é formar pessoas"

A Sloyd Experience já é uma realidade no Brasil, e começou em meio a uma floresta
Nunca imaginei que veria isso acontecer com tamanha força. E aconteceu. Um sonho, que agora pulsa vivo, entre madeiras, ferramentas manuais, e olhos infantis brilhando de entusiasmo. A pedagogia educacional Sloyd Experience Brasil é uma realidade concreta, vibrante, transformadora ,e teve sua primeira implementação no interior do estado de São Paulo. A sala Sloyd foi implantada no Sítio São Luiz, localizado na Rodovia Homero Severo Lins, KM 521, em Rancharia.
E o mais incrível é que ela não está simplesmente em um sítio. A sala foi montada dentro de uma floresta de mogno africano. Sim, isso mesmo, as crianças trabalham em suas bancadas, contemplando, à sua frente, uma imensidão verde. É uma experiência estética, sensorial e educativa absolutamente única.
No modelo de implementação que escolhemos, é a cidade quem recebe a Sloyd Experience e passa a oferecê-la para suas crianças. Isso faz toda a diferença. A comunidade se apropria, apoia, protege. Em Rancharia, a implementação é conduzida pela Escola Politécnica da UFRJ, sob minha coordenação. E nada disso seria possível sem o envolvimento direto da Secretaria municipal de educação, do poder executivo e legislativo, e de toda a comunidade local. Quando todos se unem em torno de um ideal, o impossível se torna cotidiano.
A sala Sloyd de Rancharia tem capacidade para atender 10 crianças por sessão, com 6 sessões diárias, de segunda a sexta-feira. Desde o dia 1º de abril de 2025, 150 crianças do ensino fundamental da rede municipal, participam semanalmente das aulas, além de adolescentes da APAE de Rancharia, que também encontraram na madeira, um novo caminho para expressar-se, aprender e se desenvolver.
E o que se vê é emocionante. As crianças estão radiantes, trabalhando com concentração, esforço, e orgulho, na execução de seus projetos. Elas erram, recomeçam, ajustam, evoluem. Estão construindo muito mais do que peças de madeira, estão moldando a si mesmas. Os relatos dos pais, dos professores, e das próprias crianças, nos enchem de esperança. A floresta está viva, e agora, reverbera em cada gesto, em cada rascunho, em cada superfície lixada.
Em pouco tempo, a experiência passou a atrair atenção das cidades vizinhas, que agora nos visitam para entender de perto o que está acontecendo. O plano de expansão para o biênio 2025/2026, prevê que até seis municípios do interior paulista recebam suas próprias salas Sloyd. Um movimento silencioso e profundo está em curso.
No dia 7 de abril de 2025, realizamos uma solenidade de abertura oficial, no Teatro Municipal Laércio Boim, com a presença ilustre do vice-cônsul da Suécia, Peter Johansson, representando a embaixada sueca. Em suas palavras, registradas em publicação do consulado: “O programa utiliza a madeira como meio de aprendizado, tendo como foco moldar o caráter das crianças, [...] colocando-as em contato com a natureza, salientando a cada aula a importância no desenvolvimento de habilidades como resiliência, perseverança, e superação de desafios." No dia posterior, o vice-cônsul presenciou uma aula, e aproveitou para compartilhar com os alunos uma obra de slöjd da infância dele. Johansson fez um gabinete para pendurar chaves.
Foi um momento inesquecível para todos nós. Para as crianças, foi como se a madeira falasse várias línguas, e todas elas dissessem a mesma coisa: “Vo
cê é capaz”.
Gostaria de destacar algo com enorme gratidão: a comunidade de hobbistas da MEGA Feira de Hobbismo foi a primeira a abraçar a Sloyd Experience no Brasil. Isso foi simbólico, foi forte, e será sempre motivo de profunda conexão entre a nossa pedagogia e essa comunidade apaixonada pela marcenaria. Vocês entenderam antes de todo mundo. Vocês reconheceram de imediato, o valor pedagógico, humano, e social, do trabalho manual com madeira.
Convido a todos vocês que se emocionam com o cheiro de madeira recém cortada, que sentem prazer ao criar com as próprias mãos, que acreditam no poder transformador do fazer, que venham conhecer o que está acontecendo em Rancharia. Vocês são parte disso.
Para agendar uma visita, ou saber mais, basta entrar em contato com a gente pelo e-mail: brasil@sloydexperience.org.
Encerro com um pensamento que me acompanha todos os dias, quando entro na sala Sloyd, em meio àquela floresta: o objetivo da Sloyd não é formar marceneiros, é formar pessoas. Mas sim, acredito que uma nova geração de apaixonados pela marcenaria nascerá ali, entre bancadas de madeira e árvores de mogno. E isso, isso já vale tudo.

Luis Otavio Cocito de Araujo
Engenheiro, professor, silvicultor e idealizador do movimento Sloyd no Brasil.
Esse artigo foi publicado na 3ª edição da Revista da MEGA Feira de Hobbismo















Sensacional, parabéns pela iniciativa e pela visão humana de formação de pessoas e desenvolvimento de ofícios. Gostaria de ter iniciado dessa forma ainda na infância. Que o projeto se multiplique e que incentive outras iniciativas voltadas para demais ofícios manuais que precisam ser resgatados, como a forjaria, entalhe, tecelagem, etc. ❤️
Que emocionante ler esse artigo! Voltei no tempo... Quando tinha 8 anos, eu participava de um projeto chamado Casa da Juventude, na periferia de Embu da Artes. Faziamos carrinhos de madeira, daqueles coloridos, para serem vendidos na feira de artesanato, que até hoje, acontece aos domingos no centro histórico da cidade. Depois de trabalhar quase 40 anos em TI, resolvi esse ano de 2025, virar a mesa e trabalhar com Marcenaria. Sou daqueles que sempre se emociona com o cheiro da madeira ao corta-la. Nunca esqueci esse cheiro e tenho certeza que a causa disso, foi esse projeto que participei quando criança. Não tenho dúvidas que essas crianças também se lembrarão dessa experiencia, pro resto da vida. Muito bacana sua iniciativa. Parabéns e muito sucesso…
Fantástico. Como gostaria que alguém pudesse ter pensado nisso quando eu era jovem. Espero que a experiência seja bem sucedida no Brasil.