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O Resgate dos Ofícios Manuais

Ou será que são eles, os ofícios manuais, que estão nos resgatando?


Curso de Banqueta Shaker com o marceneiro e professor Lucas Puttini (@marcenariadobosque), na Forjaria Escola. Como alunos, vemos também os professores Eric Cerdeira (@cerdeiraquemfez, à esquerda) e Bruna Kim (@bruna_kim, à direita)
Curso de Banqueta Shaker com o marceneiro e professor Lucas Puttini (@marcenariadobosque), na Forjaria Escola. Como alunos, vemos também os professores Eric Cerdeira (@cerdeiraquemfez, à esquerda) e Bruna Kim (@bruna_kim, à direita)

Fazer algo com as próprias mãos é uma necessidade humana. Está em nós desde sempre. Desde os primeiros tempos, usamos as mãos para moldar o mundo: construir, reparar, transformar. Faz parte da nossa essência, mesmo que hoje pareça algo distante.

Curso de Banqueta Capitonê com as marceneiras Fê e Lets (@lumberjills), na Forjaria Escola
Curso de Banqueta Capitonê com as marceneiras Fê e Lets (@lumberjills), na Forjaria Escola

O cotidiano moderno anda na contramão disso. Vivemos num sistema onde tudo é feito para ser rápido, prático, barato — entregue com um clique. O que importa é o menor custo e a maior escala. Nesse cenário, o “fazer” foi perdendo espaço. E os objetos perderam alma. Deixaram de ser construídos para durar e passaram a ser simplesmente substituíveis.

Ao mesmo tempo, estamos mais ansiosos, mais cansados, mais desconectados. A saúde mental virou um dos grandes temas do nosso tempo. E talvez parte desse mal-estar venha justamente do quanto nos afastamos de processos reais e concretos — daquilo que exige presença, paciência e envolvimento.

Curso de Forjamento de Marreta com os ferreiros e professores Renan Távora do Ceará com ajuda do ferreiro e professor Rodrigo Altheman (@ateliescola_rodrigoaltheman) de Botucatú , na Forjaria Escola.
Curso de Forjamento de Marreta com os ferreiros e professores Renan Távora do Ceará com ajuda do ferreiro e professor Rodrigo Altheman (@ateliescola_rodrigoaltheman) de Botucatú , na Forjaria Escola.

É aí que os ofícios manuais entram. Não como moda ou nostalgia, mas como uma resposta. Quando a gente segura uma ferramenta, sente o peso da madeira, observa o fio de uma lâmina, ou entrelaça um tecido, alguma coisa se reorganiza por dentro. É um respiro. Uma pausa necessária. Um contato verdadeiro com o presente.

Na Forjaria Escola, testemunhamos isso todos os dias. Pessoas de diferentes perfis e trajetórias chegam buscando um hobby, e acabam vivendo algo mais profundo. Uma reconexão com o tempo, com o próprio ritmo, com a alegria de construir algo com as próprias mãos, do começo ao fim.

Claro que nem tudo é simples. Muitos mestres e artesãos incríveis não conseguem realizar seus cursos por falta de alunos. A divulgação ainda é um desafio, e a cultura do consumo imediato continua predominante. Em muitos casos, o objeto final parece mais valorizado que o processo que o criou. E isso precisa mudar.

Curso de Banqueta Estaqueada com o marceneiro e professor Thiago Endrigo (@sabercomasmaos), na Forjaria Escola. Como alunos vemos também o artista e professor Taygoara Schiavinoto (@taygoaras, de camiseta vermelha)
Curso de Banqueta Estaqueada com o marceneiro e professor Thiago Endrigo (@sabercomasmaos), na Forjaria Escola. Como alunos vemos também o artista e professor Taygoara Schiavinoto (@taygoaras, de camiseta vermelha)

Existe também a questão do acesso. Os cursos têm preços justos, coerentes com o tempo, os materiais e a dedicação envolvidos. Mas mesmo assim, ainda são inacessíveis para uma parcela do público. Pensar em formas de ampliar o acesso, sem desvalorizar o trabalho de quem ensina, é uma das grandes questões para quem vive e promove o “fazer”.

A boa notícia é que estamos vendo um movimento crescente. Há cada vez mais pessoas interessadas em entender como as coisas são feitas, em valorizar o tempo do processo, em se aproximar do trabalho manual como uma forma de bem-estar e aprendizado. E isso é bonito de ver. O mundo ainda corre demais, mas tem gente decidindo ir na contramão, com as mãos firmes, calejadas e felizes.

São essas pessoas que mantêm vivos os ofícios. Que escolhem criar. Que encontram no fazer um espaço de respiro, de troca e de transformação.

Curso de Forjamento de Machado com o ferreiro multi-artesão Gui Siqueira (@guisiqueira), na Forjaria Escola.
Curso de Forjamento de Machado com o ferreiro multi-artesão Gui Siqueira (@guisiqueira), na Forjaria Escola.

Talvez todo este movimento não seja só um resgate do passado. Talvez seja, na verdade, um caminho possível para o futuro, um futuro mais consciente, sensível e humano. E talvez não sejamos nós que estamos resgatando os ofícios, talvez sejam eles que estão, aos poucos, resgatando todos nós.

Para terminar, deixo aqui um convite: seja na Forjaria Escola ou em qualquer outro lugar do "fazer", sigamos fazendo, construindo, aprendendo e principalmente compartilhando. Cada gesto conta. E você faz parte disso.

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Gui Siqueira


É multi-artesão baseado em São Paulo e fundador da Forjaria Escola



Esse artigo foi publicado na 3ª edição da Revista da MEGA Feira de Hobbismo

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