Design de projetos e Anatomia de madeiras, qual a relação? #1
- Diego Romeiro

- 26 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de ago.
Muitos acreditam que o estudo de anatomia de madeiras só serve para uma coisa, identificação de espécies, mas na verdade vai muito além disso. Existe toda uma disciplina que provém da anatomia de madeiras chamada tecnologia da madeira.
Nessa disciplina estudamos todos os aspectos físicos e químicos da madeira que influenciam sua usabilidade em diversos segmentos como luthieria, marcenaria, engenharia e arquitetura. Dentre os aspectos mais conhecidos podemos elencar a umidade, densidade, dureza e as contrações. Mas além destes ainda existem ruptura, elasticidade, compressão, tração, fendilhamento e cisalhamento.
O resultado desses estudos está sempre relacionado as caracteristicas anatômicas da madeira, ou seja, compreendendo a anatomia da madeira de cada espécie é possível antecipar possíveis problemas nos designs de projetos.
Hoje iremos ver possíveis fraturas em um projeto, que podem ser causadas por cisalhamento e ou fendilhamento. Como exemplo, estou trazendo o projeto do meu aluno de mentoria Guto Junqueira, uma poltrona feita em freijó.
A madeira de freijó (Cordia sp.) já possui características anatômicas que denotam menor resistência ao cisalhamento (média 75 kgf/cm²), como raios largos (seta branca), camada de crescimento com parênquima marginal (seta preta), e em alguns casos arranjo tangencial dos vasos (seta cinza). Portanto é necessário prestar bastante atenção aos tipos de corte e a distribuição dos tecidos.

Algo que precisamos lembram sempre quando estamos trabalhando com madeiras maciças é que são matrizes heterogenias, formadas por diferentes tecidos celulares, pois isso a anatomia da madeira se faz tão importante.

Nesse projeto podemos identificar alguns pontos sensíveis de ruptura nos três painéis estruturais, como podemos ver na imagem, as linhas vermelhas mostram os pontos de cisalhamento que podem ocorrer quando reduzimos o comprimento longitudinal da madeira, consequentemente aumentamos as chances de cisalhamento.
O cisalhamento é calculado em centímetros quadrados, e ocorre no sentido longitudinal da madeira, então, todas as vezes que reduzimos essa distância longitudinal estamos reduzindo a carga necessária para cisalhar.
Além do cisalhamento outro ponto importante nesse projeto é o fendilhamento. Aqui houve a escolha por parafusos, por uma questão de agilidade e praticidade, porém o uso de parafusos deve ser feito com muito cuidado. O pré-furo deve possuir espessura igual ou ligeiramente maior do que a alma do parafuso, caso contrário pode induzir o fendilhamento.
Podemos verificar na imagem que tanto o cisalhamento quanto o fendilhamento se apresentam no mesmo local, potencializando as possíveis rupturas desse projeto. Aqui neste caso poderíamos utilizar diferentes abordagens para contornar o problema, como a escolha da madeira e ou mudanças no projeto para adequar as fraquezas da madeira escolhida. Mas isso nós iremos ver na próxima edição.
Fotos: Guto Junqueira

Diego Romeiro
Biólogo, Mestre em Botanica, Identificador de madeiras, e Marceneiro
Esse artigo foi publicado na 2ª edição da Revista da MEGA Feira de Hobbismo





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