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Afiação de formões e plainas

As ferramentas de corte são fundamentais na marcenaria. Eu não falo apenas da marcenaria desplugada, a tradicional em que não se usa máquinas. Mesmo nos dias atuais, em marcenaria abarrotada de máquinas, precisamos de ferramentas manuais afiadas.


Eu, como professor de marcenaria no Studio Carvas, percebo um grande salto de habilidade nos artífices quando eles aprendem e praticam afiação de suas ferramentas.

Se a ferramenta está afiada, ela vai funcionar bem e você poderá ganhar intimidade com ela. Se está cega, não funciona e que sua curva de aprendizagem não decola.

Na época das corporações de ofício, a afiação de ferramentas era a primeira instrução dada ao artífice. O mestre não poderia correr o risco de pegar uma ferramenta cega pelas práticas do aprendiz.


Esse tema não é livre de controvérsias. São muitas as formas de afiar, preferências e até mesmo manias. Mas, há algo de comum em todas essas maneiras; um núcleo fundamental que você precisa conhecer para ir bem.


A afiação é um processo para obtenção de uma aresta de corte eficiente. O processo consiste na abrasão progressiva se duas superfícies metálicas dispostas em ângulo, para seu máximo encontro (intersecção). Assim, para se afiar um formão ou um ferro de plaina, precisamos não apenas realizar abrasão no chanfro, mas também nas costas das lâminas.



Esta abrasão é feita por uma placa plana com grânulos abrasivos mais duros do que o metal a ser friccionado. Essa placa pode ser pedra natural, compósito cerâmicos, minerais, metálicos, diamantados ou até mesmo uma placa de vidro ou granito com uma lixa colada.


A abrasão consiste num processo de fricção regular das duas superfícies até o seu mais nítido encontro. É progressivo, pois precisamos aplicar grânulos abrasivos cada vez mais

finos, até que as superfícies metálicas estejam polidas e maximamente interseccionadas. Neste momento formamos o que se chama de fio ou aresta de corte. Este fio é tão fino, que quando toca a madeira, ao invés de amassá-la (contundência por pressão), ele corta as fibras.


Processo


A primeira coisa a se fazer, é realizar a abrasão das costas da ferramenta. Precisamos progredir com a abrasão até que todos os arranhões produzidos estejam uniformes até o ponto de encontro com a superfície do chanfro.


Este momento é verificado de duas formas. A primeira é pelo reflexo da luz na lâmina. Precisa manusear a ferramenta na luz até verificar que todos os arranhões produzidos pelos grânulos estejam vazando na aresta de corte. A superfície das costas precisa de planicidade e regularidade.


A segunda verificação se dá pela detecção tátil do que se chama de rebarba. A rebarba é um fenômeno físico que veremos mais detidamente à frente.


Note que a regularização das costas da ferramenta é toda feita à mão livre. Você não precisa de gabaritos para essa atividade. Basta que realize a fricção das costas completamente assentada na placa abrasiva, sem pendulações.



A abrasão do chanfro pode ser realizada também à mão livre ou com auxílio de gabaritos de chanfro. São muitos os tipos no mercado. Gostaria de destacar apenas dois: o primeiro, o mais clássico é o do tipo eclipse, marca de ferramentas que popularizou carrinho para abrasão regular do chanfro. Outro seria o da Veritas, o MK2, hoje o que temos de melhor em se tratando de guia para abrasão de chanfros.


Grosso modo, você prende a lâmina em um carrinho a uma certa distância de projeção. E variando essa distância, por trigonometria você obtém um ângulos diferentes. Ângulos são muito importantes em afiação de ferramentas, pois eles determinam o tipo de trabalho a ser executado e a resistência mecânica da aresta de corte. Em 20 graus, por exemplo, um formão pode parear topo com muita facilidade, mas é completamente inadequado para ser percutido para abrir caixas de espiga. Então com um gabarito de chanfro, você consegue muito mais precisão, além de poder trabalhar com microchanfros, que acho muito conveniente nas reafiações.


A rebarba.


O processo de abrasão envolve um complexo de forças (ação e reação). À medida que friccionamos, geramos atrito. A placa abrasiva recebe a força e exerce reação contrária ao metal. Enquanto há massa metálica, a reação é proporcional e o grânulo abrasivo mais duro corta o metal. À medida em que a abrasão chega perto da aresta de corte, não há vetor de equilíbrio reativo para cortar o metal, então este se dobra num formato de onda. Este metal dobrado na aresta de se chama rebarba.


A rebarba mascara a resta de corte, tornando-a romboide e pouco aguçada. A fase mais determinante de uma boa afiação é a retirada da rebarba. É ainda importante lembrar, que à medida que usamos placas abrasivas cada vez mais finas, a rebarba vai se tornando cada vez mais sutil até se tornar indetectável pelo tato. Mas ela continua lá e neste caso chamamos de “microrrebarba”.


Para retirar a rebarba eu utilizo um toco de madeira macia, como cedro ou pinus. Eu passo a aresta de corte numa das arestas do topo da madeira. Algumas vezes para a esquerda e depois para a direita. O topo da madeira possui as fibras todas agrupadas uma ao lado da outra como um feixe de canudos. Quando a aresta de corte rebarbosa passa por ali, as fibras atuam como pinças, retendo a rebarba e endireitando o fio.

Já quando a abrasão estiver próxima do polimento, a melhor forma de se retirar a microrrbarba é a través do strop de couro. O couro com composto abrasivo ceroso apresenta maciez. Quando você passa o chanfro da lâmina no couro (nunca contra o fio, pois o couro será cortado) a rebarba vira em direção às costas. E depois basta assentar o fio passando as costas no strop também.


Atenção ao número de vezes e à força aplicada no strop. Você tem que passar o suficiente e com a pressão adequada apenas para retirar a microrrebarba. Não é uma atividade de golpes vários, pois a maciez do couro pode retirar a regularidade da aresta de corte, curvando-a. Isso depende da sua experiência, do strop, do composto abrasivo ceroso e do aço.


E de fato há muito mais para se falar neste tema tão importante, mas precisamos de máxima concisão para te verter os elementos de uma boa afiação.



Vinicius Carvas


Dono do Studio Carvas. Advogado, Marceneiro, Professor e apaixonado por ferramentas.



Ilustrações por Tulio Oliveira

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